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19 de junho de 2001
Matérias
MARATONA
Jogos de guerra

Gamemaníacos têm uma causa: salvar a humanidade de qualquer coisa. No último sábado eles se reuniram para traçar a estratégia. Infiltrada neste mundo, nossa repórter conta aonde todos nós vamos parar
Dalila Góes
Da equipe do Correio


Fotos: Ronaldo de Oliveira
Quem vê a cena não imagina que os rapazes estão em verdadeira batalha de vida ou morte. abaixo, rose rezende, a “mistra”: mulher é figurinha rara nos dias de jogatina

O visual de uma competição de jogos de computador é um verdadeiro atentado a quem estagnou no emocionante mundo cibernético de Pitfall, lá pelos idos de 1986, século passado, se me permitem lembrar. São tantas cores, tanto barulho, tantos meninos de óculos iniciados na língua marciana que dá para arriscar pedir um asilo por insalubridade na faixa de Gaza. O primeiro campeonato brasiliense de Counter Strike, realizado no último sábado, foi tão emocionante quanto qualquer partida de futebol entre Brasil e Argentina. Pelo menos para eles, os strickers. São criaturas humanas entre 11 e 30 anos que se entendem de um jeito tão competente que você começa a se perguntar: ‘‘Onde diabos eu estive na última década?’’.
  ‘‘Assim não dá, preciso de um milk shake.’’ A frase, tão furiosa quanto angustiada, reflete a decepção de uma das raras e corajosas meninas — eram apenas três — que se juntaram a 82 criaturas do sexo masculino. Calma, senhores pais. Tudo na vida tem uma explicação e o jogo é de família. Despachada para casa por volta do meio-dia, Tamara, 14 anos, tratou de afogar suas lágrimas na lanchonete da esquina. Foi e não voltou mais. É triste, mas ninguém sentiu sua falta. Com o jogo começado às 9h, temos muitas e muitas horas de teste à paciência e aos nervos.
  O resumo básico da coisa é o seguinte: terroristas israelenses, irlandeses, palestinos, ou qualquer outra representação daquilo que se convencionou chamar de demo, de um lado, e o salvadores do mundo (os policiais americanos, claro!) de outro. São mais de trinta locações, que variam de embaixadas a aviões sequestrados, e um arsenal bélico de matar Saddam Hussein de inveja. Bazucas em punho, cada um examina o mapa de seu território com a precisão de Sherlock Holmes. Meirmão, isso é guerra com direito a telão, guaraná e hambúrguer. Counter Strike, segundo a turma, é o jogo de computador — no meu tempo chamava-se vídeo-game — mais famoso do mundo. Como você não sabia disso, heim?

Ritual
Na rotina sabática dos Strickers, está um ritual de enfartar qualquer ministro do apagão. São vinte e três computadores, três ar-condicionados, vinte lâmpadas de 20 Khw e um telão que mandaram para as cucuias quaisquer medidas de racionamento de energia.
  ‘‘Mas cada máquina desliga automaticamente seu disco enquanto o jogo está parado’’, explica, didaticamente, Christian Ribas, 25 anos, estudante de computação da UnB, responsável pela competição. Sendo assim... Ribas, ou melhor PontoNight (não me perguntem o por quê do nome, porque não há uma explicação lógica) convocou, via Internet, os amigos de São Paulo. Gente como PerePato e Kiko, 16 anos, que têm como missão na vida convencer os pais de que sete horas ou um dia na frente do computador são insuficientes para a sobrevivência da raça humana. Com ou sem apagão.
  ‘‘No Counter é assim, quanto mais horas acordado, mais chances de derrotar o inimigo’’, filosofa Pere, enquanto tira, cuidadosamente, de uma lata de biscoitos forrada com um flanela roxa, seu melhor amigo do dia: o mouse. Aliás, striker esperto não sai de casa sem seus acessórios. Do mouse pad — aquele tapete por onde corre o bichinho —, até teclado e se possível a cadeira mais confortável para não doer as costas. O incrível é que não há um só jogador — e olha que são 85 — que não tenha trazido de casa sua parafernália tecnológica. Até trocam sérias impressões sobre o assunto. ‘‘Cuidado aí, velho. Esse daí custou R$ 300’’, avisa, em tom mui amistoso, El Mariachi, o mediador da partida.
  Juntos, fazem piadas de coisas inacreditáveis, ininteligíveis, dessas que a gente só ri para não passar vergonha. Conselho feminino: mulheres leitoras, campeonato de videogame é reduto masculino, mas... Eles não te darão atenção. Os motivos são simples. Ou são muito tímidos, ou não falam sua língua, ou falam algo que você acha que é português, mas não é.
  ‘‘Não, namorar não. Aqui é fascínio e vício pelo jogo. Quem é fraco fica babando para aprender manobras e estratégias. Quem é forte se sente poderoso, invencível. Mas todo mundo se respeita’’, garante Rose Mistra Rezende, idade indeterminada, mas que João Devil Marcelo jura ter 45 anos. ‘‘Ninguém sabe a idade dela. Mas até que joga bem’’, examina o pequeno diabo. Sob ameaça intergaláctica a reportagem não revelará a idade de Mistra, mas podemos negociar uma dica: tem menos de 45.
  A deusa do amor — em linguagem Stricker, lógico — foi mandada para casa ainda nas oitavas de final do jogão. Mas fez questão de manter-se firme até as 22h, na rodada final. Ficou para pegar as manhas e até passar para o filhos, um deles no segundo ano de medicina da UnB (olha a dica!). ‘‘Tem filho?’’, Devil metralha mais uma. Mistra nem ouve.
  
P.S1
Dica de leitura: ouça essa matéria ouvindo Smack My Bitch Up! — tradução imprópria para um jornal de família —, da banda Prodigy. Faz parte da top 10 dos gamemaníacos.

P.S2
Se der vontade de ler alguma coisa depois disso daqui, que tal o manual do Counter Strike? É a única coisa sensata que consigo me lembrar agora.

P.S3
Em tempo: PontoNight, Predat, Plusion, YronMan e Hawk-Eye foram os campeões da maratona de sábado


Na Internet
http://www.counter-strike.net/ (em inglês)
http://www.counter-strike.de/ (em alemão)
www.esquadbr.org/cstrike (em português)
http://www.monkey.com.br/ (em português)


ENTENDA O QUE ELES FALAM

Palavrinhas básicas para você não ser deletado da conversa

Aaaaaiiii
Para ser repetido em voz alta e estridente. Quanto mais alto melhor. Raríssima palavra da série stricker que tem correspondente em português, mas não significa nada daquilo que você está pensando. O ‘‘aaaaiiii’’ aqui é ‘‘graças a Deus não morri. Mas daqui a pouco eu pego você seu f....’’

Alamon
Entidade com nacionalidade alemã. Alguns jogadores consideram Alamon o deus do Counter Strike. Ninguém nunca viu, nem sabe quem é, mas acompanham seu desempenho estratégico via Internet. Diz-se daquele que joga muito bem, é animal, é sinistro, véi.

Respawn
Digamos que Conter Strike é um jogo que acredita em reencarnação. Em um nível você morre, mas no outro está vivinho da silva. Ou seja, você simplesmente respawn.

Skin
Significa que você vai escolher um personagem. Ou seja, fulano skin os polícias ou fulano skin os terroristas.

Strike
Expressão importada da tribo dos humanos que jogam boliche. Exemplo: você joga uma bola e derruba todas as garrafas. Aí todos gritam ‘‘strike’’ (leia-se straique). No Counter, o terrorista joga uma bomba e mata cinco policiais, ou vice-versa, e os strikers gritam ‘‘striikkke’’ (leia-se straaaaaique).


   Garotas iludidas
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